Com a correria do cotidiano, os avanços tecnológicos e as mudanças nos hábitos das famílias, algumas tradições seculares tendem a se perder no tempo. Preservar hábitos comuns do passado, é também uma forma de resgate cultural, mantendo vivo hoje costumes como o trabalho coletivo. Um exemplo, são as casas de farinha, que produzem alimento para dezenas de famílias nordestinas.
Em Bernardino Batista, localizado na Região Geográfica Imediata de Sousa a produção artesanal de farinha de mandioca é uma tradição. Existem duas Casas de Farinha na Comunidade dos Barbosas. As Casas de Farinha na Comunidade dos Barbosas foram fundadas em 1960 pelo saudoso produtor rural Senhor de Chagas, filho do patriarca Chagas Barbosa “in memoriam”. Hoje, uma Casa de Farinha é administrada pelo produtor rural e ex-candidato a vice-prefeito nas eleições de 2012, Benedito Manoel de Santana (Benedito Barbosa) e outra é administrada pela Sra. Francisca Alcina da Conceição (Cina), filhos de Senhor de Chagas. As Casas de Farinha dos Barbosas são passadas de geração em geração.
Nas casas de farinha, a produção é feita de modo artesanal, com mão de obra familiar ou com a participação de membros da comunidade. Na Casa de Farinha mulheres e crianças lavam e raspam os tubérculos, a fim de que seja realizada a sua moagem para a extração do amido ou polvilho. O evento marca momentos de confraternização, ao mesmo tempo em que fortalece costumes e tradições do lugar.
Casa de Farinha é um espaço de sociabilidade. Os laços, consanguíneos ou não, são reafirmados na farinhada. É no momento da raspagem da mandioca que se pode notar maior coesão do grupo familiar. Em geral, estes locais constituem espaços de trabalho coletivo, de intensa troca de saberes e práticas, apresentando estruturas simples, abertas e dotadas de equipamentos rústicos.
Trata-se de uma atividade que promove a integração das famílias em torno de um objetivo comum. Mas, apesar de todo o cansaço e do calor emanado pelo forno existente sob o tabuleiro, onde as tapiocas e beijus são assados e a farinha é torrada, ninguém reclama. O trabalho nas Casas de Farinha é uma atividade coletiva e solidária. O processo de fazer farinha envolve, além de um saber prático, uma prática educativa familiar.
As Casas de Farinha são familiares, ficam fechadas durante o ano e só abrem na época do plantio e da produção da farinha em parceria. O processo produtivo básico da farinha resume-se nas seguintes etapas: colheita, transporte, descascamento, lavagem, ralagem, prensagem, esfarelamento, torrefação, classificação e embalagem.
A produção das Casas de Farinha começa muito cedo, ao nascer do sol e se estende até o entardecer. Tem início celebrado com o cantarolar e as falácias da mão de obra feminina, que munidas de uma boa faca amolada se preparam para a função da raspa, etapa que influencia todo o andamento da farinhada. Se houver qualquer atraso neste estágio, todos os outros procedimentos seguintes estão comprometidos. A rapidez e presteza deste trabalho conferem a essas mulheres um papel de fundamental importância neste estágio do processo produtivo.
É muito comum neste momento presenciar falácias entre o mulherio, conversando de maneira animada sobre assuntos relacionadas à comunidade; entre um tempo e outro, surgem ações alternativas como o cantarolar de músicas regionais, antigas ou conhecidas.
Depois de raspadas, as raízes são colocadas em cestos para transporte interno, denominados de caçuás. É neste momento que a mão de obra masculina igualmente se faz presente. Neste momento, o trabalhador masculino recebe a denominação de cevador, triturando a mandioca e deixando-a em forma de massa.
A casa de farinha não é um lar, espaço de moradia, mas um lugar onde se instalam, periodicamente, aqueles responsáveis pelos processos mais complexos no contexto da farinhada, como o forneiro, o prenseiro e a tiradora de goma durante o processo de fabricação da farinha.
A mandioca possui muitos derivados como a goma, o beiju, a tapioca, o sequilho, o bolo e a farinha, que é o principal acompanhante de muitos pratos da culinária nordestina. A farinha é base da agricultura familiar e da alimentação do nosso povo. A farinha é um produto de subsistência, de cunho histórico-cultural e que alimenta crianças e muitas famílias.
Apesar da matéria-prima vir da agricultura familiar, é possível observar uma queda considerável no número de plantações, consequente se reduz a procura pelas casas de farinha, que cada vez mais mecanizam o processo com a falta de famílias para produzir.
Fonte: Abdias Duque de Abrantes Jornalista-MTB-PB 604
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